quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

LOS HERMANOS, PRIMEIRO SHOW!



O primeiro Show da banda foi a 15 anos atrás, 14 de dezembro de 1997 no Empório, Rio de Janeiro. Marcelo Camelo conta que todos ficaram satisfeitos e Bruno Medina destaca que o lugar era pequeno, apertado e só tinha os conhecidos dos integrantes, pois ainda não tinham fãs. Rodrigo Amarante tinha sido convidado pelo Marcelo e já estava no primeiro show, mas não tocou.

Agora deixo a palavra para a página Los Hermanos:

"No dia 14 de dezembro de 1997 (...) Marcelo Camelo, Bruno Medina, Rodrigo Barba, Victor A.S. (baixo) e Carlos Jaimovich (saxofone) estavam no Empório, no Rio de Janeiro, passando o som para o que seria o primeiro show do Los Hermanos. Rodrigo Amarante deveria estar em casa se preparando para sair, já que esteve nessa apresentação mas não tocou – entraria na banda no show seguinte.

Com abertura do Noção de Nada e diante de 74 pagantes o então quinteto tocou pouco mais de 15 músicas, várias delas que entrariam pro repertório dos discos como “Azedume”, “Descoberta” e “Tenha Dó”. Existe apenas uma foto dessa noite - e não tenho ela aqui."

A Ana Camelo (mãe do Marcelo) comentou em uma das minhas publicações e diz ter uma foto do dia. Se encontrá-la e assim que me passar estará bem aqui. 

Na sequência, sábias e belas palavras do Medina sobre esse dia que tanto marcou a história da banda e de todos que acompanham o trabalho deles. Deixo o "link" para conhecerem o Blog dele também:




O PRIMEIRO SHOW, por Bruno Medina:

Um Dia de Domingo
(sáb, 15/12/12)



Lembro-me de que era um domingo típico de verão. O sol já se punha em Ipanema anunciando aos retardatários que finalmente chegara a hora de deixar a praia, e a descontração dos banhistas a caminho da casa de sucos, descalços e salpicados de areia, apenas ressaltava o absurdo que era trajar calça e blusa social naquele escaldante princípio de noite. Como não havia conseguido estacionar na porta do bar, tive que carregar o teclado e a estante no lombo por 4 quadras ao menos; mas o que realmente me preocupava não era a dor nas costas que fatalmente sentiria no dia seguinte, e sim sujar, suar ou amassar a roupa do show. Eu mesmo não conhecia o lugar em que iríamos tocar, quer dizer, já havia estado ali, tomando cerveja com os amigos na calçada do outro lado da rua, mas nunca até então tinha tido motivos para subir a escada que dava acesso ao salão onde as bandas se apresentavam. “Isso aqui não vale R$400,00”, foi o que pensei assim que me deparei com o acanhado ambiente, cheirando a guimba de cigarro e caipirinha quente, rusticamente decorado e arrendado graças ao cheque caução assinado pelo pai do Marcelo.
Segundo o Alex, nosso produtor, não havia com o que se preocupar, visto que ele e o Marcelo tinham se certificado de ligar para vários amigos, que confirmaram presença. Considerando o fator “papo de carioca”, tivessem eles conseguido convidar 40 pessoas que fossem, minha expectativa era a de que viessem, com muito boa vontade, umas 10. Bom, a essa altura do campeonato, que jeito senão ser otimista? A passagem de som foi rápida, claro, até porque nem se justificava, dada a qualidade dos amplificadores, caixas e microfones. Era tão somente barulho o que aquele equipamento estava acostumado a oferecer, e o quanto antes aceitássemos essa condição, mais tempo teríamos para nos dedicar a outra providencial tarefa: tentar convencer os frequentadores do bar de que valia a pena pagar para assistir aquela inusitada banda de hardcore que tinha sax e teclado na formação. Foi o saudoso Vicente que largou a bandeja por um instante para se tornar nosso primeiro técnico de luz, tentando tirar o melhor dos dois únicos refletores voltados para o palco. Meio metro de altura, 3 de profundidade, 4 de largura, esse era todo o espaço que tínhamos para montar os instrumentos e nos acomodar, Marcelo, eu, Barba, Vitor A.S e Carlos Jazzmo. A título de ilustrar o quão diminutas são estas dimensões, basta dizer que havia uma música específica em que eu precisava ser realmente ágil, caso não quisesse tomar uma pratada no braço esquerdo.
O público foi chegando aos poucos, possivelmente em parte atraído pelo show do Noção de Nada, a banda mainstream do underground que fecharia a noite. Era preciso admitir que a tática de coagir os amigos com convites-telefonema havia surtido efeito, pois, se não eram 100 os presentes, muito menos eram 10, como eu temia em segredo. Ao todo, foram 74 os pagantes que resolveram nos dar um voto de confiança, números espetaculares para os padrões da casa, sobretudo se levarmos em conta que ninguém ali sabia exatamente o que esperar daqueles 5 sujeitos de roupa esquisita. Na hora de “subir” no palco bateu o frio na barriga, primeira banda de verdade, primeiro show da vida, muito mais complicado do que as apresentações de piano da professora Lea, das quais participei durante boa parte da adolescência. De blazer branco e cabelos molhados penteados para trás, o Marcelo nos avisou que, como introdução, recitaria um poema. Posicionou-se sobriamente em frente ao microfone, esperou o silêncio se impor e disparou:
“Rimo em versos o reverso / Falo em lua soberana / Pinto quadro que me ama / Beijo a flor que tu iluminas / Só pra poder dizer // Choro a alegria contida / Abro o peito encadeado / Clamo aos olhos encharcados / Absorto os engulo / Só pra poder dizer // Dou ao ódio a mentira / E à verdade uma ilusão / Me condena a solidão / E a certeza do engano / Só pra poder dizer… / Que te amo”
Olhando para trás, percebo que foi neste instante em que forjou-se a proposta estética do Los Hermanos, a mesma que depois veio a ser chamada pela imprensa de Lovecore, Wandocore e nem sei mais o que. Na sequência, sem muita conversa, perfilamos boa parte do repertório que viria a compor nosso primeiro disco, acompanhados palavra a palavra por um colega de faculdade chamado Rodrigo Amarante, que já conhecia todas as nossas músicas e que, com enorme merecimento, passou da plateia para cima do palco a partir do show seguinte. Superado o estranhamento inicial da plateia, lá pelo meio do show, as rodas de pogo começaram a se formar, e o resto, é história.
Naquele 14 de dezembro de 1997 eu tinha só 19 anos e, como quase todo mundo nessa idade, sonhava em arrumar um emprego decente, daqueles com carteira assinada e 13o, que me desse segurança e estabilidade para tocar a vida sem sustos tão logo aquela brincadeira entre amigos terminasse. Acontece que aquela brincadeira entre amigos nunca terminou, ao invés disso, tornou-se minha profissão e me levou por caminhos bem distantes da pretendida estabilidade, uma vez que por muitos anos tive a mala como casa, o banco da van e o chão do aeroporto como cama, a equipe da estrada como família. De palco em palco, de cidade em cidade, conheci todo o Brasil e um pouquinho do mundo na companhia dos meus melhores amigos, exercendo o privilégio de ser parte desta banda que, ao longo destes 15 anos, só me deu alegrias e motivos para ter orgulho. Como registros desta emblemática noite em que tudo começou, restam apenas uma foto, que ninguém sabe mais onde está, um set list amarelado e agora este relato, que vocês acabam de ler.

 

"set list" do Primeiro Show.

 

 

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